É repugnante assistir a uma cena em que um preso, condenado
na Ação Penal 470, também conhecida como mensalão,
e atualmente cumprindo prisão domiciliar na capital
do país; e com os direitos políticos suspensos, possa manifestar-se livremente
sobre o processo político brasileiro, como se estivesse plenamente apto a dele
participar. Refiro-me ao condenado naquele processo, e principal agente operador daquele esquema
criminoso, no entendimento do Ministério Público Federal, senhor José Dirceu,
que em recente declaração a imprensa manifestou o desejo de reaglutinar o seu
grupo político dentro da estrutura partidária do partido dos Trabalhadores, com
vistas a exercer influência no governo tocado pela petista Dilma Rousseff, a
quem acusa de negligenciar na condução da política econômica.
Dirceu, que é expert na arte da articulação política, conta
com a complacência da justiça brasileira, pela omissão, para por em prática
esse ambicioso projeto, sob as bênçãos do líder maior do petismo, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em reservado estimula a ação do
ex-auxiliar e amigo pessoal das antigas
para fazer frente ao desgaste que o partido sofreu em decorrência de mais de
uma década no exercício do poder federal. Com o plano, Dirceu e seus parceiros
no PT, forçariam uma mudança de rumo na gestão da presidenta, sobretudo no
tocante à manutenção da coalizão que atualmente ainda lhe garante uma
confortável base parlamentar no Congresso Nacional, que estaria a necessitar de
uma forte liderança dentro do governo capaz de dar suporte à interlocução com o
Parlamento.
Não se pode negar a habilidade política do ex-ministro da
Casa Civil da primeira gestão do presidente Lula, que com esse plano tenta se
reinserir no processo político brasileiro, aproveitando-se do silêncio do
Judiciário, que tem sido cada vez mais benevolente na concessão de direitos ao
ilustre preso, após a saída do relator original daquela Ação Penal, ex-ministro
do STF Joaquim Barbosa, que deixou o caso e a Corte em meados do ano passado.
Após a saída de Barbosa, a relatoria da AP 470 passou às mãos do ministro Luís
Roberto Barroso, que tem sido bastante generoso com os presos condenados
naquela Ação Penal, especialmente com José Dirceu, que de forma discreta tem
podido atuar nos rumos do Partido dos Trabalhadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário