sábado, 21 de abril de 2012

A lógica de um paradoxo

Por Damião Gomes

Após ver as maquetes dos novos estádios de futebol que sediarão jogos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, tive, num primeiro momento, a sensação prazerosa de estar diante de verdadeiros monumentos que se nivelam ao que há de mais luxuoso e moderno no mundo milionário do futebol; não deixando nada a desejar em relação aos estádios de países do chamado primeiro mundo.

Todavia, passado esse momento de êxtase,  proporcionado por tão belas obras de arte e à luz da realidade brasileira, me vem à mente a desproporcionalidade nos investimentos por parte do setor público nessas portentosas obras em relação ao que se destina a assistência à saúde e à educação em nosso país. Não é razoável vermos o montante de recursos canalizados para a logística em torno do campeonato mundial de futebol, ainda que se busque o retorno financeiro desses investimentos através da grande quantidade de turistas que se pretende atrair, quando vemos a imensa maioria do povo brasileiro padecendo nos hospitais públicos a espera de atendimento que amenize seu sofrimento.

De igual modo, também não é diferente em relação a educação pública – com exceção do ensino superior -, que ainda consegue ter um bom nível de qualidade, não obstante a falta de recursos que poderia torná-lo de excelência. Essa carência de recursos reflete principalmente no campo da pesquisa, que impede o Brasil de avançar e de se tornar referência no mundo. É inconcebível se ter em pleno século XXI crianças e adolescentes estudando em escolas de lata por esse Brasil afora, e o mais grave ainda parte destes fora da sala de aula por falta de escolas, que apesar do dever constitucional do Estado de oferecer educação de qualidade a sua população, o Governo – principalmente a nível municipal -, não cumpre com esta obrigação constitucional, é bom que se diga.

Nada contra o Brasil sediar tão importante evento de abrangência internacional, que certamente trará divisas ao país, porém, o que a população reclama é que paralelamente ao esforço do governo brasileiro em dotar as cidades que receberão as delegações estrangeiras de total  infra-estrutura para a realização do certame, haja também por parte do governo a mesma preocupação em garantir uma completa assistência à saúde e à educação, e assim se cumpra o que estabelece a carta Magna da República.

A boa imagem do Brasil lá fora passa pela satisfação do seu povo com os serviços prestados pelo governo, que contemplem, ao menos, a maior parte de suas necessidades. Isto é possível. É preciso, pois, ser prioritário.


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