sábado, 19 de maio de 2012

República enlameada

Por Damião Gomes


É de estarrecer o noticiário que vem sendo divulgado pela mídia há cerca de dois meses, versando sobre a atuação do esquema de corrupção liderado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira, que, sem exercer qualquer mandato eletivo, detinha (ou ainda detém) forte influência nas diversas esferas do poder. Sua atuação criminosa não se restringia apenas à exploração de jogos de azar no estado de Goiás e arredores de Brasília, mas, sobretudo, consistia na corrupção de agentes públicos, que através de empresas que tinham negócios com o Executivo, direcionavam milionários e superfaturados contratos, que tinham o objetivo de alimentar o apetite insaciável da quadrilha.

A cada dia vem a público, através dos grandes veículos de comunicação, fatos relatados nos inquéritos das operações ‘Vegas’ e ‘Monte Carlo’, da Polícia Federal, em diálogos gravados com autorização judicial, que dão conta do imenso poder de influência da quadrilha junto a autoridades governamentais, que alcançava os três poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário -, além de ter os seus tentáculos também fincados nas administrações municipais, de olho numa fonte inesgotável de recursos, que é exatamente a verba destinada à coleta de lixo, cuja demanda não se esgota nunca, e permite auferir extraordinários lucros.

A quadrilha contava com apoios importantes de membros do poder Legislativo – integrantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados -, que não mediam esforços para ajudá-la, tanto na interlocução com o executivo, através da facilidade em vencer as licitações; bem como a nível de Judiciário, onde se pretendia obter setenças que favorecessem membros da quadrilha, que tinham demandas naquele poder. A forte ligação do contraventor com parlamentares das duas casas do Congresso Nacional levou a abertura de processo disciplinar junto ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal contra um de seus principais membros, o senador pelo estado de Goiás Demóstenes Torres(sem partido), cujo envolvimento com a quadrilha de Cachoeira o coloca na condição de peça fundamental do esquema criminoso.

Nesse período de dois meses de intensa divulgação de fatos relacionados ao esquema Cachoeira, foi instalada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – CPMI, do Congresso Nacional, que pouco (ou quase nada) avançou em termos de aprofundamento das investigações a cerca da atuação da quadrilha, optando claramente por desviar o foco da investigação, e partindo, dessa forma, para uma tentativa de enfraquecimento do Procurador Geral da República, a quem cabe oferecer denúncia junto ao Supremo Tribunal Federal, ao final da CPMI, caso haja indícios de participação no esquema criminoso de autoridades com prerrogativa de foro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário