A política a serviço do crime

Por Damião Gomes

Com a divulgação pela imprensa de parte do conteúdo que deu origem a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, e que culminou com a prisão do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, fica cada vez mais evidente que o contraventor não se preocupava apenas em explorar jogos de azar, no estado de Goiás e nos arredores de Brasília, como pareceu num primeiro momento; pois, verificou-se que sua atuação era muito mais abrangente, e envolvia lideranças políticas de vários partidos e estados, com foco numa aproximação com setores do governo, visando os contratos milionários e até com o propósito de influenciar na escolha de membros da mais alta Corte de Justiça do País, o Supremo Tribunal Federal.

Dada a contundência dos diálogos, gravados com autorização judicial, em que há indícios do envolvimento de autoridades dos governos de Goiás e do Distrito Federal, além da Prefeitura de Goiânia e de vários parlamentares do Congresso Nacional, faz-se prudente uma investigação ampla que leve ao completo esclarecimento dos fatos apontados, que são gravíssimos, diga-se de passagem, e ponha na prisão aqueles que extraíram vantagens desse esquema criminoso, com o seqüestro dos bens adquiridos de forma ilícita pelos envolvidos. É preciso, pois, que esta investigação seja levada a cabo pelo Poder Legislativo, através de uma CPI, e conte com o apoio irrestrito do Judiciário brasileiro.

Comenta-se nos bastidores que a atuação do esquema liderado por Cachoeira tem ramificação nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e que uma investigação feita por uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Nacional poderia, em tese, balançar a República, com o possível aparecimento de fatos novos envolvendo figuras de proa dessas instituições. Resta saber como o governo reagiria diante da possibilidade de abertura de uma CPI para apurar a relação de parlamentares e servidores públicos com o empresário Carlinhos Cachoeira.